Programação acontece até dia 25 de fevereiro no Teatro da Praia; diretor Rogério Mesquita e dramaturgo B de Paiva são homenageados no evento
Legenda: Objetivo do festival é fomentar a produção teatral da Capital e de todo o Estado, valorizando artistas e incentivando a diversidade de linguagens cênicas; na foto, a esquete "Paola Crossbox, a atleta das emoções"
Teatro de graça feito por algumas das mentes mais inventivas da cidade. A programação do 22° Festival de Esquetes de Fortaleza (Fesfort) segue nesse rastro e pretende chegar mais longe. O evento acontece até 25 de fevereiro no novo endereço do Teatro da Praia, na Avenida Monsenhor Tabosa, com desejo de movimentar a cena artística cearense.
Serão apresentadas 20 esquetes teatrais cuja ênfase é destacar novos talentos. O objetivo é claro: fomentar a produção teatral da Capital e de todo o Estado, valorizando artistas e incentivando a diversidade de linguagens cênicas. Além disso, dois grandes nomes serão homenageados: o diretor Rogério Mesquita e o dramaturgo B de Paiva.
Idealizador do Fesfort, Carri Costa traça um panorama da ação. Segundo ele, o projeto inicia no fim dos anos 1990 num momento em que artistas desejosos de apostar em uma experiência diferente de teatro – com mais ousadia e liberdade de criação – não encontravam espaço para fruir a criatividade.
“O que tinha eram grandes teatros e espetáculos convencionais. Apenas esporadicamente aparecia um grande espetáculo que ia para o teatro com, digamos, uma cara nova, uma ousadia teatral. O festival chega para dar gás a isso tudo”, explica. A premiação do evento, inclusive, reconhece isso.
Esquetes reverenciadas pelo júri recebem o troféu Gasparina Germano – homenagem à atriz cearense ícone das décadas de 1930 e 1940. “Tínhamos o propósito de que o festival seria espaço para fruição dessa inventividade, daquilo que os artistas pensavam naquele momento, e assim ele prosseguiu. Dessa forma, vimos e vemos surgir artistas geniais”.
Quem ganha o palco
O formato do evento é o mesmo desde 1997, quando estreou. As inscrições são abertas e selecionam-se 20 esquetes. A programação é montada, então, a partir de um sorteio durante reunião com representantes. O resultado são quatro apresentações por noite e, ao término, a premiação. Em comum entre os números que chegam ao palco, a promessa de qualidade.
De acordo com Carri, a comissão não pede vídeos no ato da inscrição, apenas texto, proposta cênica e release. Isso dribla favoritismos relacionados a equipes e preza pela concepção do que, de fato, ganhará o tablado.
O festival também concede a Comenda Theatro Concordia, que reconhece o trabalho de grupos, instituições, produtores e personalidades culturais do Estado. Nesta edição, os agraciados serão o grupo Pavilhão da Magnólia, o Teatro Chico Anísio, o produtor Ronaldo Agostinho e a atriz Marta Aurélia.
Fazer teatro no Ceará
Indagado sobre o que já existe e o que ainda falta para que o panorama das Artes Cênicas do Ceará se fortaleça, Carri é enfático: “Quando falamos de iniciativas no Estado, precisamos falar de políticas públicas. O Fesfort foi agraciado com a Lei Paulo Gustavo. Ainda não recebemos esse recurso, mas assinamos o contrato, então podemos realizar o objeto do projeto. A gente se endivida, recebe o recurso depois e paga todo mundo. Isso é legal? Não, claro que não é”, divide.
Para ele, o ideal é que o poder público siga o cronograma de pagamento proposto desde o início. Assim, Carri igualmente reflete a respeito da importância de valorizar a base, a raiz do teatro cearense. Gente aguerrida que, distante das programações de shopping, tentam fruir da forma mais autêntica possível e necessita de apoio para isso.
O Teatro da Praia é exemplo disso. Fundado pelo artista em 1993, é um dos espaços culturais mais tradicionais e queridos de Fortaleza. Ao longo de 30 anos de existência, abrigou diversas peças teatrais, shows, exposições, oficinas e eventos, além de ser a sede da Cia. Cearense de Molecagem, grupo de comédia popular e irreverente.
Em 2021, o equipamento enfrentou série de dificuldades que ameaçaram a continuidade. O imóvel onde funcionava, na rua José Avelino, na Praia de Iracema, foi colocado à venda pelos proprietários e, em maio do mesmo ano, parte do telhado desabou, danificando a estrutura física e os equipamentos do espaço. Mesmo assim, Carri não desistiu do projeto e conseguiu alugar um novo imóvel na avenida Monsenhor Tabosa, também na Praia de Iracema.
Com apoio da Secretaria de Cultura do Ceará (Secult), que liberou recursos para a reforma do local, o Teatro reabriu em janeiro deste ano, com a temporada da comédia “Tita & Nic”.
“O Teatro da Praia é um teatro público descaradamente gerido por artistas. Ele precisa de apoio, como toda cultura e arte. Se queremos a raiz sendo mostrada para a população, temos que investir e apostar nessa galera, nesse povo que pensa a base, a cearensidade. O que está indo aos shoppings é só mercado. Precisamos dessa noção porque, senão, complica tudo”.
Serviço
22° FESFORT - Festival de Esquetes de Fortaleza 2024
Até 25 de fevereiro, de quarta a domingo, às 19h, no Teatro da Praia (Avenida Monsenhor Tabosa, 177 - Praia de Iracema). Entrada franca